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2012-11-05

ΠΡΟΣΟΧΗ, ΑΚΟΛΟΥΘΕΙ ΠΟΛΙΤΙΚΗ ΔΙΑΦΗΜΙΣΗ (Please notice: bellow is political advertising)

In the beginning,
in the beginning everything seems wonderful...
You are constantly high...
You think you are the smart ass between your fellow mates.
That everyone is jealous of you.
And then
And then you get in the loop hole.
In the beginning you don't need much.
20-30 you are ok.
Then you need more.
50-100
and then more..
200 square meters, 300
Then 1 acre, 10 acres
and then MORE
20 acres, and MORE
MORE
MORE!
MORE!!!
MORE!!!!!!
MORE!!!!!!!


2012-11-04

PANdebate com Steve Best (legendado em pt_PT)

No âmbito do 6º PANdebate, que teve lugar no Porto, no dia 21 de Setembro de 2012, o filósofo e activista norte-americano Steve Best apresentou a sua intervenção intitulada "Tudo o que sabe sobre o Homo sapiens está errado: descentrar/recentrar a identidade humana e as implicações revolucionárias da Etologia Cognitiva".


2012-11-01

Consumir camarão...

A indústria de camarão tropical na Tailândia explora as pessoas e o meio ambiente, revela-nos uma investigação especial levada a cabo pela Ecologist Film Unit (EFU), a Link TV e a Swedwatch.


2012-09-10

Ou mudamos ou morremos, por Leonard Boff

Hoje vivemos uma crise dos fundamentos de nossa convivência pessoal, nacional e mundial. Se olharmos a Terra como um todo, percebemos que quase nada funciona a contento. A Terra está doente e muito doente. E como somos, enquanto humanos também Terra (homem vem de humus=terra fértil), nos sentimos todos, de certa forma, doentes. A percepção que temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construímos o princípio de auto-destruição. Não é fantasia holywoodiana. Temos condições de destruir várias vezes a biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano. Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve a alguns e deixa perecer os demais. O destino da Terra e da humanidade coincidem: ou nos salvamos juntos ou sucumbimos juntos.
Agora viramos todos filósofos, pois, nos perguntamos entre estarrecidos e perplexos: como chegamos a isso?
Como vamos sair desse impasse global? Que colaboração posso dar como pessoa individual?
Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador de nossas sociedades hoje mundializadas, principal responsável por esse curso perigoso. É o tipo de economia que inventamos. A economia é fundamental, pois, ela é responsável pela produção e reprodução de nossa vida. O tipo de economia vigente se monta sobre a troca competitiva. Tudo na sociedade e na economia se concentra na troca. A troca aqui é qualificada, é competitiva. Só o mais forte triunfa. Os outros ou se agregam como sócios subalternos ou desaparecem. O resultado desta lógica da competição de todos com todos é duplo: de um lado uma acumulação fantástica de benefícios em poucos grupos e de outro, uma exclusão fantástica da maioria das pessoas, dos grupos e das nações.
Atualmente, o grande crime da humanidade é o da exclusão social. Por todas as partes reina fome crónica, aumento das doenças antes erradicadas, depredação dos recursos limitados da natureza e um ambiente geral de violência, de opressão e de guerra.
Mas reconheçamos: por séculos essa troca competitiva abrigava a todos, bem ou mal, sob seu teto. Sua lógica agilizou todas as forças produtivas e criou mil facilidades para a existência humana. Mas hoje, as virtualidades deste tipo de economia estão se esgotando. A grande maioria dos países e das pessoas não cabem mais sob seu teto. São excluídos ou sócios menores e subalternos, como é o caso do Brasil. Agora esse tipo de economia da troca competitiva se mostra altamente destrutiva, onde quer que ela penetre e se imponha. Ela nos pode levar ao destino dos dinossauros.
Ou mudamos ou morremos, essa é a alternativa. Onde buscar o princípio articulador de uma outra sociabilidade, de um novo sonho para frente? Em momentos de crise total precisamos consultar a fonte originária de tudo, a natureza. Que ela nos ensina? Ela nos ensina, foi o que a ciência já há um século identificou, que a lei básica do universo, não é a competição que divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui. Todas as energias, todos os elementos, todos os seres vivos, desde as bactérias e virus até os seres mais complexos, somos inter-retro-relacionados e, por isso, interdependentes. Uma teia de conexões nos envolve por todos os lados, fazendo-nos seres cooperativos e solidários. Quer queiramos ou não, pois essa é a lei do universo. Por causa desta teia chegamos até aqui e poderemos ter futuro.
Aqui se encontra a saida para umo novo sonho civilizatório e para um futuro para as nossas sociedades: fazermos desta lei da natureza, conscientemente, um projeto pessoal e coletivo, sermos seres cooperativos. Ao invés de troca competitiva onde só um ganha devemos fortalecer a troca complementar e cooperativa, onde todos ganham. Importa assumir, com absoluta seriedade, o princípio do prémio de economia John Nesh, cuja mente brilhante foi celebrada por um não menos brilhante filme: o princípio ganha-ganha, onde todos saem beneficiados sem haver perdedores.
Para conviver humanamente inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas nos últimos séculos o fizemos sob a inspiração da competição que gera o individualismo. Esse tempo acabou. Agora temos que inaugurar a inspiração da cooperação que gera a comunidade e a participação de todos em tudo o que interessa a todos.
Tais teses e pensamentos se encontram detalhados nesse brilhante livro de Maurício Abdalla, O princípio da cooperação. Em busca de uma nova racionalidade.
Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior. Urge começar com as revoluções moleculares. Começemos por nós mesmos, sendo seres cooperativos, solidários, com-passivos, simplesmente humanos. Com isso definimos a direção certa. Nela há esperança e vida para nós e para a Terra.

2012-08-24

Vandana Shiva - O TEMPO E O MODO (RTP 2)


A reflexão de Vandna Shiva sublinha para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na promoção e manutenção das desigualdades sociais, com consequências dramáticas, como a fome ou as alterações climáticas, que, para Shiva, são sintomas de implosão de uma civilização que falha material e espiritualmente. A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interação com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que, para Shiva, sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a natureza."

2012-08-08

Valor intrínseco e economia: Da perceção da crise à crise da perceção

Artigo de opinião, da minha autoria, publicado no sítio do PAN a 3 de Agosto de 2012.

Opening the door [of perception]
A crise tem sido um dos temas da ordem do dia nos anos mais recentes. Saber que o seu desenvolvimento se deu num contexto em que os governos e os estados-nação perdem poder face aos interesses unilaterais e ditatoriais dos mercados conduz-nos ao questionamento da origem da crise. Se a reflexão sobre as soluções para sair da crise económica é pertinente e inadiável, a compreensão do que está na sua origem poderá ser um forte impulso no desenho dessas soluções.
Contudo, para compreender as origens da crise teremos de discutir a mundividência que está subjacente às sociedades globalizadas onde esta se instala e desenvolve. Esta forma particular de olhar o mundo tem as suas raízes na modernidade europeia e acentua-se com o surgimento e o desenvolvimento da Revolução Industrial. Associada às visões mecanicistas da ciência suportadas pela física newtoniana e pelo racionalismo cartesiano, a modernidade olha o mundo como um mecanismo onde é possível, conhecendo os valores das variáveis do estado inicial, prever estados futuros concretos e objetivos. A única incerteza que daqui advém deve-se à falta de rigor dos instrumentos de medida, nunca a comportamentos inesperados do sistema ou à impossibilidade de os modelos teóricos contemplarem todas as variáveis em jogo. Os modelos teóricos são tidos como uma leitura objetiva e inequívoca do real.
A adicionar a este universo mecânico surge a interpretação enviesada das teorias evolucionistas propostas por Charles Darwin no século XIX. A ideia de sobrevivência do mais apto acaba por se transformar na sobrevivência do mais forte e institucionaliza a competição como forma de organização social. No paradigma competitivo desenvolve-se uma ideia bélica do mundo onde, não existindo outras alternativas, é preferível comer a ser comido. A competitividade assume formas múltiplas no contexto da organização social e, no século XIX, torna-se o sustento do sistema capitalista que assola o sistema económico global. A competitividade começa na escola, onde os alunos são encorajados a competir pelas melhores notas para conseguirem lugares nas melhores universidades, que lhes fornecerão as melhores ferramentas para serem mais competitivos e conseguirem sucesso no desempenho das suas funções profissionais; a centralidade é sempre colocada no indivíduo e as ferramentas de que ele se apropria ao longo da sua vida académica destinam-se a torná-lo mais forte na competição com os seus pares, tornando a sociedade onde se insere mais forte que as restantes sociedades e culturas. O isomorfismo de ideias entre a organização do mundo não-humano e do mundo humano é bem evidente. No mundo não-humano o senso comum vê apenas o leão que persegue a gazela, os abutres que disputam o melhor pedaço da carcaça ou o macho mais forte a conseguir copular com um maior número de fêmeas e a deixar os seus genes a um maior número de descendentes que os seus rivais. Talvez a ideia isomórfica que mais contaminou o senso comum seja a da “selva urbana” ou “selva de betão”, que confere um significado de ambiente hostil e competitivo às comunidades urbanas e usa o termo “selva” em analogia com o ambiente da selva original.
O paradigma competitivo, em que as sociedades globalizadas operam, vê o mundo não-humano como um local imperfeito, pouco eficiente, que é preciso arranjar e gerir de forma a melhorar a sua eficiência, do ponto de vista humano; a tecnociência é o instrumento que permite tal correção. A metáfora da batalha e da luta faz-se sentir um pouco em todas as áreas dos saberes e manifestações sociais. Se olharmos para a medicina, por exemplo, a doença é vista como um mal a combater, um inimigo que põe em causa os nossos interesses. Não estou a colocar em causa a necessidade de tratamento e cura em caso de doença; o que questiono é a perspetiva bélica subjacente ao conceito de doença. Noutros contextos culturais, menos colonizados pela perspetiva da ciência moderna, em particular nas mundividências orientais tradicionais, a doença não é vista como um mal a combater, mas como uma desarmonia de um corpo que necessita de re-encontrar o equilíbrio.
Outra perceção comum no contexto das sociedades globalizadas e organizadas em torno das ideias da modernidade é a de que o planeta e os recursos naturais são infinitos. As sociedades da globalização vivem na ilusão do crescimento económico infindável num planeta finito e com recursos finitos. Para manter as estruturas económicas a funcionar precisamos de taxas de crescimento elevadas (na ordem dos 5% ao ano), o que conduz ao incremento do consumo dos recursos naturais, a maioria dos quais não renováveis, e por isso finitos, como é o caso dos combustíveis fósseis e dos metais.
As perceções que acabei de referir, ainda que profundamente disseminadas, são não só enviesadas por um contexto cultural muito específico como criticadas e refutadas pelas visões mais atuais da ciência. O planeta é finito e muitos dos recursos que usamos não são renováveis. E não, a selva não é um local onde a selvajaria e a competição imperam; na verdade, sobressaem as relações de simbiose, com forte primazia dos organismos e do ecossistema. Uma selva (ou floresta, se se preferir) é um complexo ecossistema resiliente que sobrevive devido às relações simbióticas de partilha entre as diferentes espécies; de forma idêntica, um organismo é o habitat de inúmeras espécies sem as quais ele não poderia sobreviver.
Por que razão estamos a abordar estes assuntos no contexto de um artigo sobre economia? A questão é que os discursos sociais instalados (hegemónicos) constroem a realidade onde se desenrolam os acontecimentos sociais. Serão decerto diferentes as sociedades onde se olha o mundo não-humano como uma extensão da própria humanidade com valor intrínseco ou onde este é visto como um mero recurso a explorar. É neste contexto que me proponho discutir a validade do discurso hegemónico que constrói as mundividências de senso comum e as suas consequências na organização social e económica.
Como já referi, o conhecimento que ao longo do século XX a humanidade obteve sobre o planeta e o universo refuta as perspetivas — com raízes nas tradições judaico-cristãs e sustentadas pelas teorias da ciência moderna — de que a humanidade é essencialmente diferente das outras espécies e da possibilidade de domínio do mundo não-humano por via do saber científico e da tecnologia. A ciência hodierna recusa a leitura positivista da modernidade e reconhece o caráter hermenêutico dos saberes que produz, a incerteza das previsões que faz e, consequentemente, a impossibilidade de controlo do sistema Terra; compreende a complexidade do sistema global e a imprevisibilidade das consequências que uma perturbação pode gerar.
A perceção tradicional, subjacente à cultura das sociedades atuais colonizadas pelo positivismo da modernidade europeia, denota uma das múltiplas facetas da crise de perceção. O discurso hegemónico teima, por via dos discursos políticos veiculados (propagandeados?) pelos mass media, em perpetuar a cultura positivista que valoriza o expertise e desvaloriza a participação democrática e a construção de propostas e soluções participativas e colaborativas. A valorização do expertise assenta na presunção da legitimidade dos pressupostos metodológicos subjacentes à construção do conhecimento científico e, consequentemente, à certeza (também esta positivista) dos conhecimentos assim produzidos como sendo uma leitura objetiva e vinculativa do real. Deste modo, e tocando no tema central desta reflexão, a crise económica só pode ser interpretada e explicada por peritos que frequentemente pululam (poluem?) em programas de televisão fornecendo verdadeiras lavagens cerebrais ao cidadão menos crítico.
Farei aqui uma pausa para sintetizar as perceções em crise que já discuti e as que irei discutir adiante. Assim, as diferentes crises de perceção que identifiquei até aqui são: (1) crise de perceção da natureza organizativa do mundo não-humano através da sobrevalorização das relações de competitividade e da desvalorização das relações simbióticas; (2) crise de perceção das relações sociais que resulta da aplicação de um isomorfismo da perceção do mundo não-humano ao mundo humano valorizando em consequência a competitividade em detrimento da colaboração; (3) crise de perceção da natureza da principal instituição produtora de conhecimento — a ciência —, que é vista como construtora de uma leitura fidedigna e objetiva do real. Falta discutir as consequências destes enviesamentos na perceção da organização económica e as suas implicações para o mundo humano e não-humano e para as propostas de solução da crise.
O que disse até aqui permite, certamente, concluir que o conhecimento e a mundividência que temos do mundo, longe de serem uma epifania do real, são poderosos instrumentos de construção da realidade; não num qualquer sentido místico de uma ideia pueril do poder da mente, mas porque as ações que tenho no mundo são pensadas e materializadas em dependência da forma como concebo esse mesmo mundo, validando, em retorno cíclico, essa conceção. Se abordarmos um nosso semelhante com a perceção de que ele é nosso inimigo, ele responderá de forma similar, confirmando a nossa perceção e contribuindo para a convicção de que estávamos corretos na assunção que fizemos; da mesma forma, os sistemas naturais respondem (ou a perceção que construímos das suas respostas) de acordo com a mundividência subjacente à nossa ação.
O paradigma de exploração em que nos encontramos, um paradigma que confunde o mundo natural com os recursos que aí encontramos, os animais com coisas que podemos explorar sem respeito pelos seus interesses e bem-estar e as pessoas com a sua produtividade, só pode existir num contexto de atribuição de valor utilitarista e de negação de valor intrínseco à natureza e à sociedade. Mesmo o próprio humano perde o fim em si que Kant lhe reconhecera e é instrumentalizado num processo mecânico e insensível de melhoria da sua produtividade a qualquer preço.
Esta visão utilitarista de humanos e não-humanos só pode ser negada através do reconhecimento de valor intrínseco da pessoa humana e dos animais, tendo em conta a sua senciência, e do mundo não-humano, tendo em conta a sua singularidade; ou, numa linguagem PAN, a Pessoas, Animais e Natureza é reconhecido valor intrínseco independente do seu valor utilitário. Não se iluda o leitor: não estamos a defender que os humanos não tem o direito de usar os recursos naturais; isso seria negar a sua própria condição de ser vivo, dado que todos os seres vivos utilizam os recursos disponíveis à sua volta. O que se questiona aqui é o direito (e a necessidade) de apropriação (e destruição) desses recursos. A humanidade, no contexto da mundividência fragmentária ocidental, é a única espécie que se considera como proprietária do mundo não-humano e se vê no direito de desalojar, extinguir e destruir ecossistemas inteiros para satisfazer necessidades de uma minoria da população mundial, necessidades que estão muito longe de ser necessidades básicas.
As palavras “economia” e “ecologia” têm em comum o prefixo eco- e a sua raiz é a palavra grega οἶκος (transliterada como oikos), que significa “casa” ou, de forma mais abrangente, “o lugar onde se vive”. Já os sufixos distintos nas duas palavras denotam significados diferentes: o νόμος (translit.: nomos) da primeira significa “gestão, distribuição ou administração” e o λόγος (translit.: logos) da segunda significa “estudo de”. Seria com certeza ingénuo da minha parte reclamar que o logos da oikos deve antecipar o nomos; a ciência não antecipa a tecnologia; ambas se desenvolvem numa cumplicidade que logra qualquer tentativa de estabelecer artificialmente fronteiras nítidas. Do ponto de vista epistemológico, o processo de administração (interação entre o aprendente e o objeto aprendido) é também um processo de estudo e aprendizagem acerca da coisa administrada; contudo, mais do que ingénuo, é insensato proceder ao logos da oikos ignorando o nomos que dela foi feito. Apesar da insensatez e dos seus resultados estarem à vista de todos, é o que continuamos a fazer.
O sistema capitalista não reconhece qualquer valor intrínseco ao mundo humano e não-humano. O seu principal (e único) objetivo é, através do uso do dinheiro (polidamente chamado “capital”), produzir mais dinheiro que deverá ser distribuído de uma forma supostamente naturalista — aquele que for mais competitivo consegue uma maior fatia do bolo por direito natural. Este princípio absurdo e sustentado numa mundividência enviesada foi agravado com a implementação do neoliberalismo dos anos 80 e 90 do século XX, inspirado na Escola Económica de Chicago e liderado por Margaret Thatcher no Reino Unido, Ronald Reagan nos EUA e Cavaco Silva em Portugal. O capitalismo agressivo e predatório, que há mais de um século tem vindo a estender os seus braços e a apoderar-se das economias mundiais, não é um sistema económico (porque não visa a gestão e distribuição da oikos) mas um sistema crematístico porque visa a acumulação ávida de riqueza. A palavra “crematística”, à semelhança da “economia” e da “ecologia”, também tem a sua origem na sociedade grega clássica. Foi usada por Aristóteles no tratado Ética a Nicómaco, sendo bem clara a distinção entre a crematística e a economia; enquanto a segunda visa uma desejável gestão e distribuição da riqueza, a primeira denota a condenável acumulação de bens pelo prazer único de os possuir. Se olharmos para aquilo a que chamamos “sistema económico mundial” facilmente compreendemos que lhe deveríamos chamar “sistema crematístico mundial” e, na sequência desta ideia, trocar o nome de cursos, escolas e faculdades de “economia” para “crematística”.
As soluções que até agora têm sido avançadas para a resolução da crise, por continuarem dominadas pelo paradigma fragmentado da modernidade europeia, oferecem somente mais do mesmo. São vários os exemplos que sustentam esta ideia, a começar pelas medidas de austeridade que os sucessivos governos do PS e PSD, impulsionados pelas exigências do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia (França e Alemanha?!), passando pelos resgates a entidades financeiras como o BPN, até às irresponsáveis propostas da chanceler alemã Angela Merkel de tornar os países devedores numa espécie de off-shores dos direitos humanos e da proteção ambiental. Tais propostas sustentam-se na valorização única e exclusiva do capital enquanto fim em si; por outras palavras, perpetuam a lógica do sistema crematístico ao invés da gestão e distribuição justa da riqueza criada, que deveria ser feita pelo sistema económico. A última medida que referi é um exemplo particularmente pertinente desta situação; ignorar a necessidade de gerar um ambiente saudável e de bem-estar das pessoas não é uma medida de resolução de problemas, é uma medida de adiamento da resolução de problemas. Não é possível converter bem-estar de pessoas, animais e natureza em rendimentos de capital porque uma vida humana destruída, um animal condenado à escravatura ou as emissões de gases com efeito de estufa não podem ser recuperados através de investimentos financeiros mesmo que carreguem o rótulo verde.
A crise só pode ser resolvida através da construção de uma perceção holística do mundo, uma perceção que privilegie a compreensão da complexidade das relações humanas internas e externas e que se sustente nelas para administrar a riqueza gerada e que construa um sistema económico sustentado nos saberes da ecologia, não enquanto cânone de conhecimentos de uma disciplina científica, mas como forma de pensar o mundo.
A primeira mudança que necessitamos de fazer é reconhecer o caráter metafórico, representativo e, consequentemente, histórico das nossas mundividências. Um paradigma não fornece, como já tive oportunidade de sublinhar, um conhecimento objetivo e direto do real; um paradigma constrói um conjunto de perceções subjetivas (com uma história) e culturalmente situadas partilhadas por um número alargado de indivíduos. Quão absurdo seria pensarmos que o geocentrismo tinha sido uma verdade até ao século XV, então substituída pelo que viria a ficar conhecido como o paradigma newtoniano, que, no início do século XX, viria a ser substituído pela teoria da relatividade e pela mecânica quântica. Será com certeza mais sensato encarar estas teorias científicas como perceções histórica e culturalmente situadas, quanto mais não seja porque nenhuma delas destronou completamente a outra. Ainda hoje usamos a metáfora do geocentrismo quando olhamos para uma carta celeste, a metáfora da relatividade de Einstein quando queremos sincronizar os relógios dos satélites com os relógios terrestres, a metáfora da mecânica quântica quando queremos por referido relógios em comunicação digital, e claro que é a metáfora da mecânica newtoniana que nos guia na colocação dos satélites em órbita. As teorias foram substituídas em consequência das alterações da perceção humana do real e, ao contrário do que alguns apregoam, o século XX tornou a Física numa ciência pós-paradigmática.
Na segunda metade do século XX, fruto do desenvolvimento científico e do estranho mundo que a relatividade e a mecânica quântica desvendavam, foi-se materializando a ideia de uma perspetiva holística em que as entidades aparentemente independentes no contexto da mecânica clássica surgem como perturbações interligadas e interdependentes; vórtices num contínuo fluxo do espaço-tempo unificado por Albert Einstein. Esta necessidade de olhar os sistemas como um todo foi rapidamente apropriada por diversas áreas científicas e em particular as ciências da Terra, que olham agora o planeta como uma entidade una, ainda que incompleta (entre outras razões porque a energia que permite a dinâmica deste sistema provém de uma fonte exterior, o Sol). É no prosseguimento desta visão global e holística que reclamamos a extensão do reconhecimento do valor intrínseco — atribuído, no contexto do positivismo da modernidade, somente a (alguns) humanos — a animais e ecossistemas; mas também à singularidade da montanha e do deserto, da floresta e do oceano, do Sol e das estrelas; este é, na minha perspetiva, o caminho a seguir.
A compreensão de interdependência global permite o despertar da consciência e da empatia universal e, em consequência, da valorização intrínseca do mundo humano e não-humano, que, estamos agora conscientes, não são meras coisas a explorar, mas parte integrante do nosso ser. A adoção de estilos de vida miméticos dos ciclos naturais, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias que possibilitem uma relação simbiótica entre pessoas, animais e natureza, o desenvolvimento de um sistema económico e o abandono do sistema crematístico são mais do que necessidades de uma biosfera em colapso: são um imperativo que resulta da mudança da perceção que temos do mundo.
Esta forma de olhar e valorizar o mundo não se compadece com as velhas dicotomias políticas esquerda/direita ou comunismo/capitalismo, ou com as ainda mais velhas dicotomias ontológicas homem/natureza ou vivo/inanimado. O antropocentrismo a que todas elas estão sujeitas coloca-as no domínio das mundividências com interesse histórico e com pouco interesse social. Podemos (e devemos), sempre conscientes de que são uma perceção obsoleta, usar algumas das ideias e conceitos que aí residem para elaborar cartas celestes que nos guiem na construção das novas perceções que a nossa época reclama, mantendo sempre viva a ideia de que, também as novas, não passam de perceções histórica e culturalmente situadas.
Uma reflexão atenta sobre o mundo leva-nos necessariamente à conclusão de que a riqueza é produzida não só pelos humanos, mas por todos os sistemas do planeta; de facto, as riquezas fundamentais só podem ser produzidas pelos ecossistemas: a riqueza da água com qualidade que permita o florescimento da vida, de uma atmosfera limpa, de alimentos saudáveis e tudo o mais de que precisamos para que a oikos onde estamos nos proporcione uma vida com qualidade e tempo para a comunidade. Não se trata de atribuir uma valorização instrumentalista ao mundo natural, mas antes a construção da perceção de que não somos donos desse mundo, somos seus constituintes; criar a consciência de que a Ciência, a Arte ou a Filosofia não são tentativas de tornar o mundo inteligível e dominável aos olhos e mãos humanas, mas ensaios de um mundo que busca compreender-se a si mesmo.
O paradigma que emerge é o da diversidade: o poliparadigma cuja linha orientadora é a totalidade, o ὂλος (translit.: holos) da existência. Mais uma vez plagio (como se fosse possível plagiar no mundo uno) a ideia do mundo natural; da mesma forma que a biodiversidade simbiótica garante a resiliência de um ecossistema e que a ecodiversidade simbiótica garante a resiliência do planeta, são também as diversidades de ideias e práticas humanas simbiontes que poderão garantir a resiliência de sociedades e economias.
É talvez pertinente sublinhar a importância da simbiose no processo de evolução e desenvolvimento (não crescimento) social. Também aqui nos socorremos do mundo não-humano, desta vez da história da vida na Terra. O que as teorias científicas (perceções construídas em contextos culturais e históricos específicos) do século XX nos ensinaram é que a colaboração simbiótica é o cerne da evolução para um novo estádio organizativo mais complexo que o anterior. Cada um destes estádios organizativos dá origem a novos sistemas com propriedades emergentes distintas das dos seus componentes isolados. Um exemplo elementar é a relação simbiótica entre um átomo de oxigénio e dois átomos de hidrogénio que dá origem a uma molécula de água. O sistema composto é, nas condições em que existe, mais estável que os seus átomos separados. Entretanto, as propriedades desta nova substância nada têm a ver com as dos átomos que a constituem. Os exemplos sucedem-se na escala organizativa, não num processo linear, mas numa complexidade e diversidade de formas quase infinita. O mesmo se passa com os organismos vivos: mitocôndrias e cloroplastos, outrora estruturas independentes, aprenderam a colaborar com as células que são o seu oikos e desenvolveram uma economia dos recursos que resulta numa relação de ganho-ganho. As células organizam-se em tecidos, estes em órgãos e estes em seres de uma determinada espécie que colaboram com outras espécies formando ecossistemas que são suporte de vida dos planetas (pelo menos deste planeta). Os conceitos de organismo e ecossistema (con)fundem-se e tornam-se mais numa perspetiva que depende do lugar do que um conceito objetivo e claro com correspondentes inequívocos no real. Enquanto para o animal a célula é um dos seus constituintes, para a mitocôndria é o seu habitat, inserida num ecossistema mais abrangente que é o próprio animal. Da mesma forma, na perspetiva do humano o lugar onde vive insere-se num ecossistema, e na perspetiva da Terra o humano é um dos seus constituintes (ainda que nos últimos tempos dos menos simbióticos). Tudo é, simultaneamente, constituinte e constituído numa organização simbionte.
É nesta ideia que reside a importância da promoção da relação de simbiose entre os humanos e dos humanos com o mundo não-humano; à semelhança dos isomorfismos que a modernidade estabeleceu entre as teorias do mundo não-humano e a organização social, também a pós-modernidade o pode e deve fazer. Não quero com isto dizer que as ciências sociais se devam subordinar às mundividências construídas pelas ciências naturais; a diversidade paradigmática das ciências sociais é tão interessante como a que referi no contexto da física e igualmente situada num determinado contexto histórico e cultural; contudo, parece-me que é através da promiscuidade dos saberes que se fecunda a verdadeira riqueza epistémica e, por isso, a luxúria da partilha do conhecimento tem tanto de útil como de desejável. A reflexão que fiz nas últimas linhas procura denotar o caráter de estruturas emergentes que são as sociedades: emergem da organização humana e, porque os humanos são sistemas naturais, também as sociedades o são. Nestes tempos de visões holísticas, onde os saberes se interpenetram, poderá perguntar-se qual o sentido de continuar a adjetivar as ciências de naturais ou sociais?
Voltando ao cerne da discussão, se fui buscar inspiração à simbiose do mundo natural, é também na sua diversidade que a consigo encontrar; de facto, só pode haver simbiose se houver diversidade; o que têm dois iguais a partilhar? A sociedade global que estamos a construir quer-se resiliente e, por isso, diversa. Precisamos tanto de soluções locais miméticas e simbióticas do mundo não-humano como de propostas globais com características idênticas. Precisamos de ideias e tecnologias distintas para que as comunidades locais criem autonomia e resiliência, mas também de ideias e tecnologias globais que permitam organizar e planificar o presente e o futuro. Com uma grande fração da população a viver em grandes centros urbanos, e dada a impossibilidade de deslocar essas populações para zonas rurais, também é necessário conceber soluções que permitam a gestão destes aglomerados humanos. E qual a melhor forma de conseguir a diversidade necessária aos diversos níveis?
Do meu ponto de vista, é através da construção de uma democracia radical global. Uma democracia onde cada cidadão deste planeta, olhando o mundo na sua plenitude e respeitando e reconhecendo o valor intrínseco de pessoas, animais e natureza, exerça a sua cidadania de forma consciente, ativa e positiva. Para isso apenas precisamos de aproveitar o que já temos; o que, numa primeira perspetiva, poderá parecer um problema — mais de sete mil milhões de cérebros para conceber e 14 mil milhões de mãos para materializar. É verdade... a matéria-prima já existe e, neste momento, constitui um problema porque não lhe é permitido assumir o controlo e destino das suas próprias vidas particulares e globais. Os seus papéis são ditados por um mercado tirano e crematístico insensível às suas necessidades. Milhões de pessoas são confinadas à ignorância e à pobreza e vistas como um problema em vez de um possível contributo para a solução. É necessário munir as pessoas das ferramentas intelectuais fundamentais, que permitam o desenvolvimento de uma visão crítica do mundo e de si mesmas. Como referiu Isaac Asimov, se o conhecimento gerou problemas, não é com a ignorância que os vamos resolver. Se permitido me for usar a metáfora de Pierre Bourdieu, não será grande o capital financeiro a investir para que cada cidadão deste planeta possa incrementar o seu capital cultural a um nível que lhe permita encetar, de forma irreversível, um processo emancipatório aos níveis intelectual e social. E por cada cidadão educado, por cada cidadão emancipado, teremos mais um cidadão a exercer a sua cidadania, um agente democratizando de forma radical a sociedade global. Este é o único capital que é preciso fazer crescer na sociedade que estamos a construir; o resto são somente recursos que devem ser utilizados tendo em conta os processos cíclicos do planeta.
A palavra “crise”, em chinês mandarim, é representada por dois ideogramas: 危機 (translit.: wēijī ou wei-chi); o primeiro, wēi, significa “perigo” e o segundo, , “oportunidade”, segundo alguns linguistas, e “ponto crucial”, segundo outros; como não estou a discutir linguística, permito-me a liberdade de uma interpretação livre de jī como ponto crucial onde pode surgir a oportunidade. Um período de crise é, sem dúvida, um período de perigo; um vórtice no fluxo espacio-temporal, que, perturbado por ventos de mudança, busca um novo estado de equilíbrio. A nós, constituintes e agentes deste ponto crucial, cabe-nos, sem sebastianismos e munidos das novas ferramentas de perceção que temos vindo a construir no último século, arregaçar as mangas e aproveitar a oportunidade para construir um mundo melhor, um mundo pelo bem de tudo e de todos — pessoas, animais e natureza.

Créditos
Foto: Opening the door, por Laura Billings (Flickr).

2012-07-19

Verdes Anos: História do ecologismo em Portugal {1947-2011}

O livro é de Luís Humberto Teixeira e, como o nome indica, conta-nos o que se passou com os movimentos ecologistas em Portugal nos últimos 64 anos. O autor começa por nos apresentar dois capítulos que clarificam o que se entende por movimentos verdes e as suas diferentes tonalidades e traça uma síntese da Europa Verde. Daqui parte para a análise da realidade portuguesa, iniciando-a em Agosto de 1947 com a carta que o poeta Sebastião da Gama em "desesperado apelo [dirige] a Miguel Neves, etomologista da Direção Geral dos Serviços Agrícolas, instando-o a salvar uma área natural da Serra da Arrábida que estava a ser destruída para alimentar de madeira um forno de cal" (p. 90).
A carta...
"Socorro! Socorro! Socorro! O José Júlio da Costa começou (e vai já adiantada) a destruição da metade da Mata do Solitário que lhe pertence. Peço-lhe que trate imediatamente. Se for necessário, restaure-se a pena de morte. SOCORRO!" (p. 90).

2012-07-16

2.as sem carne (melhora para o ambiente, saúde e animais)

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A Campanha 2.as Sem Carne é um movimento internacional, nascido em 2003 nos Estados Unidos e que visa contribuir para a tomada de consciência por parte de todos para o impacto que o consumo excessivo de carne tem sobre a saúde humana, o ambiente e os animais.
Hoje, esta campanha já está representada em cerca de 24 países e conta com o apoio de inúmeras figuras públicas, como Sir Paul McCartney, e de líderes internacionais dos mais variados quadrantes.

2012-07-15

Simpósio Internacional sobre Recifes de Corais (2012)

Terminou na passada sexta-feira o International Coral Reef Symposium 2012 (ICRS2012) que teve lugar em Cairns (Austrália). O simpósio teve inicio no dia 9 de julho e as notícias decorrentes deste cinco dias de trabalho não são animadoras. Nos mares caribenhos a fração da área ocupada pelo recife que está coberta por corais vivos diminuiu dos 40% a 60% dos anos 70 pra 5 a 10%, e na Austrália a mesma área situa-se situa-se nos 20% em oposição aos 40% de há 50 anos atrás.

2012-07-07

A Civilização da Selva, por Vandana Shiva*

Vandana Shiva
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Sim, é possível assegurar que os tigres, as tribos, as árvores e todas as demais formas de vida sejam protegidas e possam continuar sua viagem evolutiva em paz e harmonia, escreve neste artigo, exclusivo para o Terramérica, a ativista indiana Vandana Shiva.

NOVA DÉLHI.- Até há pouco tempo, os indianos se identificavam como Aranya Sanskriti, ou seja, a Civilização da Selva. Segundo o poeta Rabindranath Tagore, a peculiaridade da cultura indiana consiste em sua definição da vida na selva como a mais alta forma de evolução cultural. Em "Tapovan", Tagore escreveu que "a civilização indiana se caracteriza por situar suas fontes de regeneração – material e intelectual – nas selvas e florestas, não na cidade. A cultura que surgiu da selva sofreu influência de diversos processos de renovação e reafirmação da vida, que estão sempre atuando no ambiente selvagem e que variam de uma espécie para outra, de uma estação para outra e em sua aparência, seu som e seu cheiro".

Atualmente temos problemas para proteger nossos sistemas essenciais de apoio á vida e ao coração de nossa identidade como civilização, porque sacrificamos "o princípio unificador da vida em diversidade, do pluralismo democrático, que havia se convertido no princípio da civilização indiana". O fizemos em nome das categorias reducionistas do pensamento ocidental, que desprezam a coexistência. O tigre se opõe à tribo, a tribo se opõe às árvores. A dependência mútua e a afinidade estão sendo substituídas pelo antagonismo, pela polarização e pela exclusão que ameaçam a todos: as tribos, os tigres e a biodiversidade das selvas e florestas.

2012-07-06

Gaia’s Plan

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Gaia’s Plan Please, don’t sweep the leaves away –
Their essence gives to life’s decay.

Never hack the flowers down –
Their colours bless the laughing clown.

Now why the mowing of the lawn?
The severed grass will lie forlorn.

Let our flora live undressed,
Or under Man, will toil repressed!

I, the tree of standing still –
Erect and proud, and stout of will,
Aglow with motley bark of earth –
Advance my roots for all they’re worth,
Internalising Nature’s bowels
To snag the devil, tweak his jowls
And pull his hairs from whence they grow!
I’ll destroy his pagan show
Of Homo sapiens’ disrespect!

The humble ape must reconnect
With Gaia’s plan!

(Mark R. Slaughter, 2010)


Créditos
Foto: Vale dos Pirilampos, Pinhal do Rei - Marinha Grande, por Ricardo Machado (Flickr).
Ricardo Machado é o autor do blogue Floresta Encantada — www.charmed-woods.com

2012-07-05

Alterações climáticas e evolução (um caso em estudo)

Dodonaea viscosa subsp. angustissima (Narrow-leaf Hopbush)
Dodonaea viscosa subsp. angustissima é um arbusto nativo da Austrália que tem sido alvo de observação cuidada por parte de biólogos vegetais. A comparação da largura da folha desta planta com exemplares de herbário apontam para uma diminuição de, aproximadamente, 2 mm nos últimos 127 anos. Os cientistas Greg R. Guerin, Haixia Wen e Andrew J. Lowe, que tem vindo a estudar esta planta, consideram que a alteração desta característica da espécie se deve às mudanças climáticas que privilegiam a sobrevivência de exemplares com a folha mais estreita. É o processo de seleção natural a acontecer diante dos nossos próprios olhos.

Créditos
Artigo: Guerin, G.R.; Wen, H. & Lowe, A.J. (2012). Leaf morphology shift linked to climate change, Biology letters.Retirado de : http://rsbl.royalsocietypublishing.org/content/early/2012/06/28/rsbl.2012.0458.abstract
Foto: Dodonaea viscosa subsp. angustissima (Narrow-leaf Hopbush), por Arthur Chapman (Flickr)

2012-06-22

A Morte dos Oceanos (documentário da BBC)

A Morte dos Oceanos é um documentário da BBC, apresentado por Sir David Attenborough, onde se discutem os problemas que a atividade humana coloca aos Oceanos enquanto suporte de vida. São 59 minutos de uma história que tem tanto de triste como de maravilhosa, ilustrada por belas imagens em movimento.
Legendado em Português (pt_BR).


2012-06-15

Pachamama — os direitos da Mãe Terra


A Bolívia, no seguimento da revisão constitucional que fez em 2009, aprovou há cerca de um ano, uma lei que reconhece à "Mãe Terra" direitos idênticos aos dos seres humanos. Por detrás desta inovadora e sensata medida está a recuperação das mundividências ancestrais, xamânicas e panteístas, dos povos nativos dos Andes. O direito à vida e à existência, à continuidade dos ciclos e processos vitais livres da alteração humana, à água pura e ao ar limpo, ao equilíbrio, à não-poluição e à não-sujeição a modificações celulares ou manipulações genéticas, são alguns dos 11 direitos constantes do projeto de lei.

2012-06-13

Uma entrevista com James Lovelock (em inglês)

James Lovelock - A Final Warning: by Nature Video

James Lovelock é conhecido como o pai da teoria Gaia, a idéia de que todas as partes do planeta formam um sistema complexo de interação, como um único organismo. Nesta entrevista Lovelock lança um aviso para o planeta Terra e entusiasma-se sobre a sua viagem espacial que está próxima.
O vídeo faz parte do Canal youtube da Nature e foi carregado  no Dia da Terra (22 de Abril) do ano de 2009.

2012-06-10

Home — O Mundo é a nossa casa

HOME foi feito para ser partilhado e agir pelo planeta!
(original narrado em pt_PT)




HOME é o nome de um filme de 2009 dirigido e narrado por Yann Arthus-Bertrand o famoso fotógrafo de vistas aéreas a quem dediquei a mensagem do dia 7/jun. O filme, à semelhança do restante trabalho do fotógrafo, alerta para a dimensão global dos problemas ambientais e de sustentabilidade e para a necessidade de os enfrentarmos de uma forma séria e eficaz. Trata-se, de facto, de um documentário sobre o sistema Gaia sublinhando as suas interdependências.

2012-06-09

Gaia, a Terra, um organismo vivo?

Cédric Lemery
No dia 20 de Abril de 2005, Cédric Lémery deu uma conferência, a convite do Sangha Rimay Lusófono então chamado Dharma Ling de Lisboa, intitulada "Gaia, a Terra um organismo vivo?".
Cédric Lémery, um antigo aluno da l'Ecole Normale Supérieure de Lyon (admitido em 1993), Agregado de Ciência Físicas (1996), Doutor em Física da Terra (2001), é actualmente professor de Ciências Físicas e Químicas no liceu (correspondente ao ensino secundário em Portugal) e animador de conferências e estágios pluridisciplinares. O texto que está a seguir à apresentação é da autoria de Cédric Lemery.

Carregue no botão "play" para ver a versão portuguesa do slideshow da apresentação.



2012-06-08

A Teoria de Gaia (parte II)

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A aventura de Gaia contínua. Com o passar do tempo a comunidade científica começa a olhar para esta teoria científica com mais credibilidade. A pressão dos movimentos ecologistas não é isenta de responsabilidades nesta mudança de atitude. Alguns setores mais ortodoxos adotam a designação de Ciência Sistémica da Terra (Earth Systems Science) em detrimento do nome original. No entanto, nos meios verdes mantêm-se a designação original e, em alguns sectores mais espiritualistas, desenvolvem-se conceções panteístas e de revivalismo do culto da Terra característico das sociedades xamânicas.
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Voltando aos aspetos materiais mais reducionistas, diferentes áreas do conhecimento debruçam-se em busca de evidências empíricas da existência do sistema gaiano. As buscas revelam-se frutíferas e algumas conjecturas são colocadas a debate.
Apercebemo-nos que as florestas tropicais — sendo a Amazónia o exemplo mais conhecido  e frequentemente chamada de pulmão da Terra, não nos podemos esquecer das manchas verdes da África Equatorial e do sudeste Asiático — não têm um papel tão importante na reposição do oxigénio e na remoção do dióxido de carbono da atmosfera.

2012-06-02

A teoria de Gaia (parte I)

Blue Marble
Na década de 70 James Lovelock, em colaboração com Lynn Margulis, avançou com uma ideia revolucionára: a hipótese de Gaia que lança um novo olhar sobre a vida na Terra. Esta hipótese surgiu na sequência de um pedido da NASA ao referido cientista, para conceber um método capaz de proceder à detecção remota de vida em Marte. A ideia era conceber um projeto que, eventualmente, envolvesse um dispositivo que pudesse ser transportado até ao planeta ou às suas imediações e aí fosse capaz de capturar informação que permitia inferir acerca da possível existência de vida em Marte. Lovelock, contudo, optou por abordar o problema a partir de outro ângulo. Sem sair da Terra poderia usar a informação sobre a composição química da atmosfera marciana para chegar a tal conclusão. O ar de um planeta sem vida, em virtude de se encontrar há milhões de anos sem grandes alterações deve estar próximo do equilíbrio químico. Na atmosfera de um planeta como a Terra, onde a vida prospera, isso não acontece porque, diariamente, são produzidos e consumidos novos gases capazes de reagirem quimicamente entre si.