No dia 19 de Abril foi publicado um artigo na revista científica Environmental Research Letters com o mapeamento da distribuição de água subterrânea no continente africano. Os autores do artigo afirmam existir 0,66 milhões de km3 de água, 100 vezes mais do que a precipitação média anual e 20 vezes mais do que a que se encontra armazenada nos lagos da superfície. O artigo refere, no entanto, que nada se sabe acerca da qualidade destas águas; mas que se julga que a maioria seja potável, pois estão suficientemente fundas para não serem alvo da contaminação comum às águas superficiais. Prevê-se, contudo, que as águas de algumas regiões, devido às características do subsolo, possam conter elevadas concentrações de ferro, flúor e arsénio, o que impossibilita o seu uso sem tratamento.
O artigo sugere que estas reservas podem, depois de construídos mapas mais rigorosos e de estudadas as formas de extração, ser usadas para colmatar a carência de água em determinadas regiões do continente cujo agravamento se prevê, devido às alterações climatéricas antropogénicas.
Como se pode perceber pelo mapa da figura abaixo, a distribuição é heterogénea e as principais reservas localizam-se no norte do continente no subsolo do maior deserto quente do planeta, o Saara.
Distribuição das águas subterrâneas em África |
O que o artigo não explica é que grande parte destas reservas são constituídas por água fóssil, isto é, água armazenada há milhares de anos que não é ciclicamente reposta. A reserva de água fóssil do subsolo saariano tem mais de 5000 anos e levou outros tantos para se formar. O processo aconteceu quando a região, hoje desértica, era ocupada por uma luxuriante floresta subtropical. Este facto faz destas reservas de água um recurso não renovável e, como a história da humanidade deixa adivinhar, o maná rapidamente se poderá transformar em escassez. Usar estas águas para melhorar a qualidade de vida da população africana pode parecer tentador; mas, uma exploração desenfreada e uma utilização insensata destes recursos poderá ser somente um adiar do problema.
Não significa isto, porém, que não se deva recorrer a este recurso; porém, ainda mais importante que a tecnologia para o explorar é pensar em soluções e tecnologias que permitam um estilo de vida sustentado e suportado pelos recursos renováveis. De outra forma estaremos mais uma vez a adiar o problema e a reduzir as possibilidades de sobrevivência das gerações vindouras.
Créditos
Artigo: MacDonald, A. M., Bonsor, H. C., Dochartaigh, B., & Taylor, R. G. (2012). Quantitative maps of groundwater resources in africa. Environmental Research Letters, 7(2), 024009. doi:10.1088/1748-9326/7/2/024009 (descarregue-o aqui).
Mapa: Retirado da página 4 do artigo referido.
Foto: Liquid Gold por, Marielle van Uitert (United Nations Development Programme)
Sem comentários:
Enviar um comentário