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2012-04-25

Chernobyl, um legado com 26 anos


Posto de controlo no acesso à zona de exclusão.
 Foi na madrugada do dia 26 de Abril de 1986, dez anos depois da sua inauguração, que uma fuga no quarto reator da central nuclear de Chernobyl, na ex-república soviética da Ucrânia, provocou o maior acidente nuclear da história da humanidade. A quantidade de materiais radioativos libertados foi 500 vezes superior à bomba atómica de Hiroshima; os detritos espalharam-se por toda a Europa; a cidade de Pripyat, cuja construção foi alimentada pela central termonuclear, tranformou-se num fantasma oxidado e os campos à sua volta continuam contaminados e isolados num raio de 50 km; as fontes de alimentos de humanos e animais foram contaminadas e inúmeras pessoas desenvolveram doenças relacionadas com a radiação como cancro da tiroide, leucemia, malformação de fetos, perturbações do sistema nervoso, doenças ósseas e musculares, diabetes, doenças cardiovasculares e problemas gastro intestinais, só para citar uma pequena porção da lista. Atualmente a radiação continua a fazer-se sentir na Bielorrússia, Rússia e Ucrânia estimando-se um total de 200 mil quilómetros quadrados de terras contaminadas e um número entre as 100 e as 200 mil vitimas.

Vitimas da contaminação por radiação em Chernobyl

Em 1976, quando foi inaugurada, a central nuclear era um símbolo do poderio soviético e a antiga URSS proclamava orgulhosamente a construção da maior central nuclear do mundo. Chernobyl produzia quantidades massivas de dois produtos: energia para alimentar o comunismo e plutónio para alimentar a escalada soviética na corrida ao armamento nuclear da guerra fria.
Vitimas da contaminação por radiação em Chernobyl
O acidente deu-se durante a realização de um teste aos sistemas de segurança que, obviamente, falharam. Trinta segundo após o início do teste, os sistemas de emergência que deveriam desligar o reator falharam e o reator ficou fora de controlo.

Uma explosão violenta arremessou a cobertura de 1000 toneladas do edifício onde se encontrava o reator e as temperaturas no seu núcleo rapidamente atingiram os 2000 ºC.
Anteriormente ao acidente já haviam sido diagnosticados alguns problemas nesta central nuclear. A ausência de um sistema que impedisse a fuga de radioatividade, problemas de refrigeração e o facto de os reatores poderem funcionar com os sistemas de segurança desligados eram algumas das falhas reconhecidas. Na época dezenas de trabalhadores ao serviço do regime soviético prestaram serviços na limpeza do local com proteções mínimas e ineficazes.
Numa tentativa de conter a contaminação radioativa, foi construído um sarcófago de betão. Hoje, 26 anos depois, herdamos vários hectares de terra contaminada pela radiação que se transformaram num laboratório onde diversos cientistas estudam os efeitos da radioatividade nos ecossistemas e nos seres vivos; herdámos a necessidade de construir um novo sarcófago em cima do já existente que, se prevê, venha a conter os resíduos radioativos nos próximos 100 anos. O preço deste novo sarcófago é de 1000 milhões de euros e será construído com uma substancial ajuda de fundos comunitários. É esta a herança que vamos deixar às futuras gerações; um cemitério radioativo e um laboratório vivo onde as experiências não podem ter variáveis controladas.
O acidente de Chernobyl foi um dos mais importantes dos diversos fatores que contribuíram para a queda do regime soviético: à derrota tecnológica seguiu-se a derrota política e ideológica.
Grafittis em homenagem às vitimas e população ausente
Vista de Prypiat. Ao fundo pode ver-se a central nuclear.

Chernobyl é hoje uma região fantasma e permanecerá assim por vários séculos. Pripyat, uma das mais promissoras cidades da ex-URSS habitada por jovens casais em início de vida e situada a uns escassos 3 km da central, foi evacuada 36 horas depois do acidente.
Cemitério de veículos abandonados
Veículos abandonados na região de exclusão
Muitos dos veículos usados na construção do local, irremediavelmente contaminados, foram abandonados na zona de exclusão. Artistas de grafittis oriundos da Alemanha e da Bielorrússia pintaram nos edifícios abandonados da cidade silhuetas em homenagem à população desaparecida.
No interior da cidade.
Pripyat e restante zona de exclusão surgem como um assustador cenário pós-industrial que testemunha, silenciosamente, os resultados da ganância de alguns que muitos, no passado, no presente e no futuro, pagaram e terão de continuar a pagar.
Roda de um parque de diversões que nunca chegou a ser utilizado.
Passou-se um quarto de século e os recentes acidentes de Fukushima no Japão trazem-nos renovadas lembranças de que o nuclear não é solução para os problemas energéticos do mundo.


Está hoje tão vivo como o esteve nos anos setenta o slogan Energia Nuclear? Não obrigado.



Créditos:
As fotos das vítimas de radiação são de Paul Fusco, as restantes são da autoria de Phil Coomes, fotógrafo da BBC.

5 comentários:

gabriel zorer disse...

essa foto da roda-gigante é porque um parque ia ser construído para comemorar o dia dos trabalhadores lá.. mas devido ao acidente não passou de um projeto.

Anónimo disse...

obrigado pelo comentário Gabriel. É de facto um testemunho de um projeto que não chegou a acontecer... como tantos outros, trágica e perpetuamente adiado.

Anónimo disse...

vi o filme relacionado á esta cidade e fiquei assustada com a história! Hoje não mora mais ninguém lá né?

Anónimo disse...

Como refiro num artigo, a área interdita estende-se por um raio de 50 km. Ainda assim, alguns artistas foram lá pintar as silhuetas nas paredes abandonadas, em homenagem às vítimas.

Anónimo disse...

Esse cenário aparece no jogo Call of Duty Modern Warfare... é o mesmo cenário incluindo a roda gigante...