No dia 25 de janeiro de 2006 publiquei a primeira mensagem no ecoliteracia. O seu nome era "Ecoliteracia — um palvrão??!!". Seguiu-se um período de dois anos de, mais ou menos frenéticas, publicações que a preguiça e a falta de tempo fizeram cair no esquecimento. Já há algum tempo que ando com vontade de reabilitar o ecoliteracia e tenho recebido alguns alguns pedidos para recolocar o blogue online, mas ainda não era ocasião. Contudo, o mote do Dia da Terra de 2012 deu-me o ímpeto que faltava.
Aqui estou... com novo fôlego para retomar as publicações. Antes de (re)colocar o blogue online estive a fazer uma leitura na diagonal das mensagens anteriores. Algumas estão desatualizadas, de outras já não gosto e... optei por as remover deste renascimento, mas estão guardadas nos bastidores do blogue e, a seu tempo, uma ou outra renascerá para ver a luz do dia de novo.
Irei começar este novo ciclo de mensagens começar com o mesmo mote que comecei o anterior. Procurando clarificar o significado do termo ecoliteracia.
Espero que este seja o primeiro de muitos e inspirados momentos de escrita e leitura.
Ecoliteracia é um termo cunhado na década de 80 do século XX pelo Professor de Estudos Políticos e Ambientais David Orr.
Decorrente da fusão das palavras ecologia e literacia, pode ser definida como literacia ecológica. No entanto, prefiro a designação de ecoliteracia por regresso ao oikos (οἶκος) grego que significa Lar e Família. Assim, acrescenta-se à oikosnomia — a organização do oikos — e à ecologia — o estudo do oikos — a oikosliteracia — a capacidade de compreender a oikos. Só os oikosliterato poderá assumir a oikosnomia adequada. Mas o que é um cidadão ecoliterato?
O conceito de ecoliteracia que Orr defende passa pelo conceito de biofilia; a afinidade que desenvolvemos pela Vida, pela Terra, pelos Desertos e Florestas, pelos Rios e Oceanos. Nesta perspectiva, um indivíduo ecoliterato, além do saber científico e tecnológico, desenvolveu um respeito e uma afectividade com o mundo natural, que o leva a sentir-se parte integrante do mesmo ou, usando uma terminologia gaiana cunhada por James Lovelock, o indivíduo desenvolve uma percepção em que se vê a si próprio como um constituinte de Gaia.
David Orr, num artigo publicado em 1990 afirma que para se ser "ecologicamente literado requer a compreensão das dinâmicas do mundo moderno [e] uma compreensão extensa da forma como as pessoas e as sociedades como um todo se tornaram destrutivas e agressivas para o mundo natural. O indivíduo ecologicamente literato terá alguma perceção da forma como as estruturas oficiais como a religião, a ciência, a política, a tecnologia, o patriarcado, a cultura, a agricultura, e a renitência humana, se combinam nas causas dos nossos apuros. (...) a literacia ecológica também requer uma larga familiaridade com o desenvolvimento de uma consciência ecológica" (p. 43).
Entende-se então que a literacia ecológica vai muito além da compreensão científica dos ecossistemas e envolve o desenvolvimento de valores e de afetos para com o mundo não humano. Ainda que se parta do Conhecimento, é fundamental que se chegue à Sabedoria. Talvez a capacidade de síntese de Fritjof Capra tenha resumido numa frase o essencial sobre este conceito quando afirmou que "A sabedoria da Natureza é a essência da ecoliteracia" (Capra, 1997, p. 290).
Créditos
Foto: Island mist, por Steve Wall
Orr, D. (1990). Environmental education and ecological literacy. Education Digest, 9(55), 49-53.
Capra, F. (1997). The web of life. Londres: HarperCollins.
Irei começar este novo ciclo de mensagens começar com o mesmo mote que comecei o anterior. Procurando clarificar o significado do termo ecoliteracia.
Espero que este seja o primeiro de muitos e inspirados momentos de escrita e leitura.
Ecoliteracia é um termo cunhado na década de 80 do século XX pelo Professor de Estudos Políticos e Ambientais David Orr.
Decorrente da fusão das palavras ecologia e literacia, pode ser definida como literacia ecológica. No entanto, prefiro a designação de ecoliteracia por regresso ao oikos (οἶκος) grego que significa Lar e Família. Assim, acrescenta-se à oikosnomia — a organização do oikos — e à ecologia — o estudo do oikos — a oikosliteracia — a capacidade de compreender a oikos. Só os oikosliterato poderá assumir a oikosnomia adequada. Mas o que é um cidadão ecoliterato?
O conceito de ecoliteracia que Orr defende passa pelo conceito de biofilia; a afinidade que desenvolvemos pela Vida, pela Terra, pelos Desertos e Florestas, pelos Rios e Oceanos. Nesta perspectiva, um indivíduo ecoliterato, além do saber científico e tecnológico, desenvolveu um respeito e uma afectividade com o mundo natural, que o leva a sentir-se parte integrante do mesmo ou, usando uma terminologia gaiana cunhada por James Lovelock, o indivíduo desenvolve uma percepção em que se vê a si próprio como um constituinte de Gaia.
David Orr, num artigo publicado em 1990 afirma que para se ser "ecologicamente literado requer a compreensão das dinâmicas do mundo moderno [e] uma compreensão extensa da forma como as pessoas e as sociedades como um todo se tornaram destrutivas e agressivas para o mundo natural. O indivíduo ecologicamente literato terá alguma perceção da forma como as estruturas oficiais como a religião, a ciência, a política, a tecnologia, o patriarcado, a cultura, a agricultura, e a renitência humana, se combinam nas causas dos nossos apuros. (...) a literacia ecológica também requer uma larga familiaridade com o desenvolvimento de uma consciência ecológica" (p. 43).
Entende-se então que a literacia ecológica vai muito além da compreensão científica dos ecossistemas e envolve o desenvolvimento de valores e de afetos para com o mundo não humano. Ainda que se parta do Conhecimento, é fundamental que se chegue à Sabedoria. Talvez a capacidade de síntese de Fritjof Capra tenha resumido numa frase o essencial sobre este conceito quando afirmou que "A sabedoria da Natureza é a essência da ecoliteracia" (Capra, 1997, p. 290).
Créditos
Foto: Island mist, por Steve Wall
Orr, D. (1990). Environmental education and ecological literacy. Education Digest, 9(55), 49-53.
Capra, F. (1997). The web of life. Londres: HarperCollins.
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